30 de setembro de 2008

Bokashi caseiro

Como produzir seu próprio bokashi em casa




Existem muitas receitas diferentes de Bokashi em livros sobre agricultura orgânica/natural e na Internet, essa é só mais uma, com o diferencial de ser bem simples e com possibilidade de ser feita em qualquer casa ou apartamento. Divirtam-se!



1 - Um pouco de história

1.1 - O significado da palavra

A palavra bokashi, de origem japonesa, significa borrar, diluir. Como em uma maquiagem borrada. Posteriormente foi usada no sentido de diluir material orgânico com farelos fermentados, com o solo, para não serem usados puros e assim não causarem danos à cultura. Porém podendo ser usados diretamente na adubação de cobertura.



1.2 - A história da técnica

A técnica de misturar farelos fermentados com matéria orgânica e solo tem origem que remonta ao final do séc. 19 (+ de 100 anos), com o objetivo de multiplicar os microrganismos benéficos em um substrato para ser utilizado como acelerador de compostagem ou para obter uma melhor sanidade de mudas. Com o advento da agricultura química foi dada menor importância ao bokashi. Já no início dos anos 80, quando se começou a questionar com maior ênfase as contradições da agricultura convencional, as publicações direcionadas para os produtores resgataram e divulgaram largamente os benefícios do esquecido bokashi na agricultura.


2 - Métodos de preparo do bokashi
Existem dois métodos de preparo de bokashi, o conhecido pelo mesmo nome que é de fermentação aeróbica e o kenki bokashi, que é o de fermentação anaeróbica. As duas variações de bokashi tem a mesma finalidade: estimular, diversificando, aumentando e recuperando a atividade biológica do solo, resultando em melhoria das condições físicas (porosidade: maior capacidade de reter água), biológicas (melhor equilíbrio biológico e menor infestação de doenças) e químicas (menor perda e maior disponibilidade de nutrientes) do solo.

A fórmula de KENKI BOKASHI é ideal para ser feita em casa, pois não necessita ser revirada constantemente (menos mão-de-obra e espaço), ao contrario do BOKASHI que necessita ser revirado algumas vezes.

Outro detalhe da formula do bokashi e do kenki bokashi é que existem varias possibilidades de misturas. Recomenda-se que se use o que for mais fácil de encontrar e mais barato nas redondezas de onde se vai produzir-los. No caso do kenki bokashi só existe uma regra básica para a mistura: no máximo 65% de farelo (de arroz, por exemplo) e até 30 % de torta (mamona, soja, amendoim, etc.), o restante deverá ser enriquecido com farinha de osso, carne ou sangue, pó de rocha, palha de arroz, cinza de madeira, etc.

ATENÇÃO: Por ser um produto que contém microrganismos vivos, não se recomenda a utilização de água tratada com cloro na produção do bokashi e na irrigação de plantas que o recebem. Caso essa seja a única opção, aconselha-se que a água permaneça em um recipiente de boca larga (ex.: balde ou bacia) por 24 horas até o cloro evaporar ou usar um declorardor comercial.

3 - Materiais:
- 1 balde de 10 litros com tampa ou um recipiente equivalente que possa ser bem tampado;
- 1 saco plástico resistente (ex.: saco de lixo preto de 30 litros).

4 - Ingredientes:
- 4,5 kg de farelo de arroz (ou trigo, soja, etc... ou ainda um mix destes)
- 1 kg de torta de mamona
- 0,6 kg de farinha de osso
- 0,5 kg de cinza de madeira
- 0,5 kg de palha de arroz ou casca de café
- 1 lt de solução EM-4 ativado (900 ml de água de nascente/mina, 50 ml de EM-4 e 50 g de açúcar)

5 - Procedimentos:
1 - Misture bem os ingredientes secos (farelo, torta, farinha, cinza e palha);
2 - Acrescente a solução de EM-4 aos ingredientes de modo homogêneo para que a umidade em toda mistura seja uniforme, essencial para que haja uma boa fermentação. Este preparado deve ter um teor de umidade em 20% e 30%, que pode ser checado ao formar um bolinho da mistura na mão e aperta-lo entre os dedos. Se sua consistência se mantenha mesmo depois de aberta a mão;
3 - Coloque um saco plástico sem nenhum furo dentro do balde de 10 lts;
4 - Despeje a mistura preparada dentro do balde forrado e compacte o mais que puder;
5 – A umidade geralmente se acumula na superfície da embalagem, prejudicando também o processo de fermentação. Para evitar esse problema, preencha o espaço entre o saco plástico e a boca do balde com uma camada de 3 cm de farelo de arroz seco bem compactado;
6 - Feche o saco plástico de modo que não entre ar na mistura e tampe o balde; 

ATENÇÃO: São nesses dois passos acima (4 e 5) que mora o segredo do Kenki Bokashi: A temperatura da fermentação anaeróbica não ira passar dos 50ºC. Para que ela ocorra perfeitamente não deve sobrar nenhum espaço com ar dentro do saco/balde. Qualquer abertura que possibilite a entrada de ar resultará em má fermentação da mistura e elevação da temperatura que poderá passar dos 50ºC prejudicando a qualidade do produto final que desejamos;

7 - Acondicione o balde em um local fresco e seco por um período de 15 a 20 dias;
8 - Após esse prazo, abra o balde e o saco plástico, retire a camada de farelo acrescentado no passo 5 e se exalar:
a) um cheiro agridoce agradável de fermentação láctica, a fermentação ocorreu com sucesso e o produto pode ser usado imediatamente.
b) um cheiro fétido e nada agradável, provavelmente você não compactou direito a mistura ou deixou entrar ar durante a fermentação. Nesse caso a mistura deve ser descartada.

Se houver também bolores brancos sobre a mistura, tudo bem. Se os bolores forem verdes ou pretos, descarte a mistura.

balde aberto após a fermentação

9 - O Kenki Bokashi deve ser usado o mais breve possível, ou espalhado sobre uma superfície protegida e deixa-lo secar a sombra, para que não entre em processo de fermentação aeróbica com elevação de temperatura. Durante a secagem do Kenki Bokashi haverá a multiplicação de fungos filamentosos, o que o deixa bem parecido com o seu irmão bokashi de fermentação aeróbica.




kenki bokashi secando a sombra



 

6 - Recomendações

- o uso em excesso de bokashi poderá criar desequilíbrio químico e nutricional, liberando os aminoácidos na seiva das plantas e favorecendo o ataque de pragas e doenças;
- o bokashi deve ser usado em solo com disponibilidade de matéria orgânica, caso contrário ira ocasionar o endurecimento do mesmo;
- nunca use o bokashi diretamente sobre a planta;
- para uma maior eficiência a área aplicada deve ser protegida com cobertura morta.


7 - Como usar
1 – substratos e mudas, 5% do volume total em bokashi;
2 – para berços de hortaliças, de 30g~50g por metro quadrado de canteiro;
3 – para berços de perenes, de 100g~200g por berço;
4 – em plantas perenes já implantadas, em 3 vezes de 0,5 kg cada sendo na pós-colheita, antes da floração (nunca durante) e durante a formação dos frutos espalhando-o sobre a matéria orgânica depositada ou em 2 ou 3 berços,de no máximo 10 cm de profundidade, por cada 5 metros quadrados, na projeção da copa;
5 – na preparação de campos e canteiros utilizar 50~100g por metro quadrado ou 500kg a 1 tonelada/ha, sendo incorporado à terra na profundidade máxima de 10 cm;
6 – em vasos, 1 colher de café rasa por mês, que deve ser colocada em uma das bordas do vaso, longe da planta. No próximo mês coloque-o na borda oposta, no mês seguinte comece a fazer uma cruz e assim por diante até o limite de 4 colheres para vasos pequenos, 6 para médios e 8 para grandes. Não use bokashi enquanto a planta estiver florida.
Em todos os casos de preparo de solo/berços, após a aplicação/incorporação do kenki bokashi no solo/berço, regue o solo/berço levemente, se possível com EM-4 diluído na água a 1:1000 e deixe o solo/berço fermentar por 10 dias antes de utiliza-lo.

8 - Dicas:
1 - Ao abrir o saco que está dentro do balde (passo 8 dos procedimentos), existirá uma pequena camada da mistura que não estará úmida. Essa camada deve ser misturada ao kenki bokashi antes de coloca-lo para secar;
2 - O kenki bokashi pode ser colocado também em composteiras e minhocários para melhorar a qualidade do produto final na proporção de 50g por metro quadrado de composto/humus.
3 - Para produzir maiores quantidades basta multiplicar a quantidade dos ingredientes.


9 - Fonte:

- Microrganismos Eficazes EM na Agricultura – CPMO – 1998;
- Adubação Orgânica, Preparo de Composto e Biofertilizante – Penteado, Silvio Roberto, 2ª Ed. Agrorganica, Fev/2006;
- Apostila do Curso Horta Orgânica – Tecnologias Avançadas – FMO – 2003;
- Apostila do Curso de Capacitação em Agricultura Orgânica – SAA-SP – 2004